Chatices da Criação
- Onde os fiéis ficam a saber que muitas vezes as anedotas que conhecem (estou a referir-me a episódios divertidos e não a personalidades tragicómicas) são oriundas das sagradas escrituras… -
No tempo em que Blog caminhava o mundo como quem anda ociosamente às compras, existia num certo outeiro uma árvore sob a qual ELE gostava de se sentar, e reflectir sobre as coisas que existiam e as que poderiam existir se assim o quisesse, ou tivesse paciência para isso.
Não que a sua natureza fosse contemplativa, mas porque como todos os seres pensantes (deuses ou não) gostava de saber o significado das coisas que fizera; mesmo daquelas que criara irreflectidamente.
Um dia encontrava-se ELE contemplando as nuvens e dando-lhes formas voluptuosas para se entreter, quando apareceu uma das suas criaturas; um ser bisonho e descompensado que não encontrando lugar para si no mundo recém-nascido, andava a chatear toda a gente só porque não tinha nada que fazer (entre outras coisas).
Colocando-se entre a divindade e uma nuvem em forma de violoncelo, começou a dissertar sobre como deveria ser a criação segundo a sua opinião pessoal (que como sabem é muito importante em democracia, desde que não faça adormecer os outros ouvintes), e apontando defeitos a torto e a direito; nomeadamente o facto de as fêmeas poderem ter direito à escolha em vez de terem sido criadas como mero adereço recreativo.
Por esta altura já Blog começava a ver onde o tipo queria chegar, embora começasse a sentir-se afectado por uma suave sonolência semelhante àquela provocada pelas justificações de alguns autarcas lisboetas. Notou entretanto que a nuvem que moldara se tinha desfeito em fumo, e recomeçou a concentrar-se para a transformar em algo útil; como um dragão ou um comboio de mercadorias que o livrasse daquela matraca em formato de gente.
Entretanto o inoportuno espécime não se calava, fazendo jus à boa matéria-prima com que o criador tinha fabricado as suas cordas vocais (se bem que, pensamos nós, tenha descurado um pouco a elaboração dos circuitos da respectiva “caixa dos pirolitos”); e alargando-se ainda mais – E o mundo? O mundo ainda não está feito! Enquanto estás aí sentado a passar pelas brasas, o mundo continua a girar e os arcanjos vão-se afiambrando a tudo o que vale a pena sem ninguém que os faça parar…
Por esta altura, já Blog se começava a interrogar se não seria boa ideia ir pedir desculpa às abelhas, e pôr os ouvidos igualmente a produzir cera. Mentalmente tomou nota de mais essa boa ideia e encarando o espécime, perguntou-lhe – Ouve lá ó chavalo! Tu gostas de marisco?...
Ansioso por demonstrar uma certa sofisticação, o inquirido garantiu que sim; embora a sua limitada experiência se limitasse à sapateira cozida, mas que sem dúvida se sentiria digno de ocupar o patamar superior na pirâmide alimentar dos crustáceos.
Blog teve um daqueles sorrisos enviesados que tão bem lhe conhecemos, e tirando dos calções (estava de folga, como sabem) um farrapinho de lã que lá entrara sem se saber como; declarou lançando o braço num daqueles gestos amplos, que os senadores romanos costumam fazer nos filmes – Então serás um crustáceo, pá. Mas és incrivelmente chato; e por isso bem podes ir para o caralho assim como todos os outros iguais a ti!...
A partir dessa altura o animalejo encontrou finalmente a sua razão de existência; pelo que quando algum de vós encarar com alguém que tenha esse tipo de comportamento, deverá encará-lo/a e perguntar num tom comiserativo – Ouve lá, queres parar com isso ou é melhor eu ir buscar a pomada?
E assim termina mais um dos episódios da criação do mundo. Que se não é perfeito, tem pelo menos a vantagem de ter a maioria das peças no sítio certo; ou não fosse igualmente certa a frase que diz – “Não nos acontece o que merecemos, mas aquilo que mais se nos assemelha!...”
Uma boa semana, e que Blog vos acrescente!
No MP3 de Blog
Não há Perdão para o Chato – Cazuza
- Onde os fiéis ficam a saber que muitas vezes as anedotas que conhecem (estou a referir-me a episódios divertidos e não a personalidades tragicómicas) são oriundas das sagradas escrituras… -
No tempo em que Blog caminhava o mundo como quem anda ociosamente às compras, existia num certo outeiro uma árvore sob a qual ELE gostava de se sentar, e reflectir sobre as coisas que existiam e as que poderiam existir se assim o quisesse, ou tivesse paciência para isso.
Não que a sua natureza fosse contemplativa, mas porque como todos os seres pensantes (deuses ou não) gostava de saber o significado das coisas que fizera; mesmo daquelas que criara irreflectidamente.
Um dia encontrava-se ELE contemplando as nuvens e dando-lhes formas voluptuosas para se entreter, quando apareceu uma das suas criaturas; um ser bisonho e descompensado que não encontrando lugar para si no mundo recém-nascido, andava a chatear toda a gente só porque não tinha nada que fazer (entre outras coisas).
Colocando-se entre a divindade e uma nuvem em forma de violoncelo, começou a dissertar sobre como deveria ser a criação segundo a sua opinião pessoal (que como sabem é muito importante em democracia, desde que não faça adormecer os outros ouvintes), e apontando defeitos a torto e a direito; nomeadamente o facto de as fêmeas poderem ter direito à escolha em vez de terem sido criadas como mero adereço recreativo.
Por esta altura já Blog começava a ver onde o tipo queria chegar, embora começasse a sentir-se afectado por uma suave sonolência semelhante àquela provocada pelas justificações de alguns autarcas lisboetas. Notou entretanto que a nuvem que moldara se tinha desfeito em fumo, e recomeçou a concentrar-se para a transformar em algo útil; como um dragão ou um comboio de mercadorias que o livrasse daquela matraca em formato de gente.
Entretanto o inoportuno espécime não se calava, fazendo jus à boa matéria-prima com que o criador tinha fabricado as suas cordas vocais (se bem que, pensamos nós, tenha descurado um pouco a elaboração dos circuitos da respectiva “caixa dos pirolitos”); e alargando-se ainda mais – E o mundo? O mundo ainda não está feito! Enquanto estás aí sentado a passar pelas brasas, o mundo continua a girar e os arcanjos vão-se afiambrando a tudo o que vale a pena sem ninguém que os faça parar…
Por esta altura, já Blog se começava a interrogar se não seria boa ideia ir pedir desculpa às abelhas, e pôr os ouvidos igualmente a produzir cera. Mentalmente tomou nota de mais essa boa ideia e encarando o espécime, perguntou-lhe – Ouve lá ó chavalo! Tu gostas de marisco?...
Ansioso por demonstrar uma certa sofisticação, o inquirido garantiu que sim; embora a sua limitada experiência se limitasse à sapateira cozida, mas que sem dúvida se sentiria digno de ocupar o patamar superior na pirâmide alimentar dos crustáceos.
Blog teve um daqueles sorrisos enviesados que tão bem lhe conhecemos, e tirando dos calções (estava de folga, como sabem) um farrapinho de lã que lá entrara sem se saber como; declarou lançando o braço num daqueles gestos amplos, que os senadores romanos costumam fazer nos filmes – Então serás um crustáceo, pá. Mas és incrivelmente chato; e por isso bem podes ir para o caralho assim como todos os outros iguais a ti!...
A partir dessa altura o animalejo encontrou finalmente a sua razão de existência; pelo que quando algum de vós encarar com alguém que tenha esse tipo de comportamento, deverá encará-lo/a e perguntar num tom comiserativo – Ouve lá, queres parar com isso ou é melhor eu ir buscar a pomada?
E assim termina mais um dos episódios da criação do mundo. Que se não é perfeito, tem pelo menos a vantagem de ter a maioria das peças no sítio certo; ou não fosse igualmente certa a frase que diz – “Não nos acontece o que merecemos, mas aquilo que mais se nos assemelha!...”
Uma boa semana, e que Blog vos acrescente!
No MP3 de Blog
Não há Perdão para o Chato – Cazuza
4 Comments:
At 16:32, Anónimo said…
Mestre, Blog é magnânimo, especialmente na ponta do seu grande dedo, como fica demonstrado neste episódio. Por isso não me admira, que até certo ponto tenha criado os chatos (ELE é distraído à brava) e só mais tarde lhes tenha dado um lugar.
E bolas, que lugar!!! Não sei do que tanto reclamam esses gajos... talvez não consigam lidar bem com a coisa, já que dar à língua nem sempre é fácil por causa dos dentes.
Nada que um cursinho de iniciação não resolva ;)
At 16:46, TheOldMan said…
Até o humilde chato tem o seu lugar no mundo de Blog, ó meiga Ovelha.
Pelo menos sempre tem algo a que se agarrar...
;-)
At 19:31, naked sniper said…
então foi assim...
At 20:41, TheOldMan said…
Exacto, Sniper de Blog.
Eu não uso pomada para os chatos, mas costumo ameaçá-los com uma latinha de "Tiger Balm" que comprei a um chinês.
;-)
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