As Profecias do Piçarra

Venho falar-vos hoje de um famoso visionário e profeta de nome Piçarra. Amolador/fadista nascido num rés-do-chão da Rua da Adiça, e conhecido pelas suas premonições de cariz catastrófico.

Apesar da grande dificuldade que qualquer estudioso terá em interpretar os seus textos (além de ter uma caligrafia horrível, grande parte das suas visões eram obtidas “sob influência”), alguns casos são de uma clareza que não deixa dúvidas.

O exemplo mais arrepiante que comprova a precisão das suas profecias, é o das torres gémeas do World Trade Center.

Conta-se que vinha um dia Piçarra do Cais do Sodré, onde tinha lanchado uns burriés empurrados a penálti, quando ao passar pela rua de S. Julião decidiu aí parar no Domingos “seboso” (na altura, um conceituado empresário do ramo hoteleiro e fornecedor de carvão), para acabar de atestar com uma das famosas bifanas molhadas à “seboso”; e assim ganhar lastro para empurrar o monociclo da ferramenta até à Praça da Figueira.

Ora, uma das primeiras coisas que qualquer Profeta aprende, é que se pode tornar perigoso misturar bebidas de natureza diferente.

Após deglutir a referida iguaria diluída numa malga de “verde tinto” contrabandeado da Galiza, Piçarra saiu da carvoaria um pouco periclitante e agarrando em ambos os punhos do monociclo, empurrou-o estoicamente pela Rua do Ouro, por entre as pragas e impropérios dos automobilistas a quem obrigava a reduzir a velocidade.

Chegado por alturas da Rua de Santa Justa, Blog enviou-lhe um sinal.

Bem… Na verdade foi o “verdasco”, que começando a interagir com toda aquela confusão de ingredientes, acabou por produzir uma elevada concentração de hidrocarbonetos (a saber, CH4); que ao repassarem os esgaçados tecidos corporais do Profeta em direcção à unidade de processamento central, lhe provocaram “visão dupla” acompanhada de uma relativa debilidade nos joelhos.

Piçarra habituado a revelações, epifanias e outros estados alterados, olhou franzindo o cenho em direcção ao elevador de Santa Justa que além de duplicado oscilava como uma corda de estendal e profetizou – As torres gémeas! As torres gémeas! Ai que elas caem, as torres gémeas!...

Foi de espírito abalado que logrou chegar ao quiosque do Faustino na Praça da Figueira, onde em frente a uma “carvalhelhos” anotou a visão num bilhete de eléctrico que ainda conservamos na nossa Igreja, junto às outras relíquias (mesmo ao lado do prepúcio de Frei Fialho).

E nunca mais a partir daí misturou “verde” com “maduro”…

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